Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 13 de abril de 2008

Batalha de La Lys (90 anos)



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d.r. Após viagem de barco até Brest, os portugueses avançavam alimentados a pão e conserva de sardinhaApós viagem de barco até Brest, os portugueses avançavam alimentados a pão e conserva de sardinha


















* João Vaz
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La Lys: A realidade vista 90 anos depois

Exagero na tragédia

A evocação da batalha de La Lys, cujo 90.º aniversário se comemora amanhã e depois em França, surge quase sempre ligada a milhares de mortos. Lê-se isso em muitos artigos sobre a participação portuguesa na Primeira Grande Guerra, 1914-18, na imprensa e na internet, e até em reputadas Histórias de Portugal. A realidade é, contudo, diferente. O desastre militar, às vezes comparado à tragédia de Alcácer Quibir, acabou de facto com a capacidade operacional do Corpo Expedicionário Português (CEP), mas as baixas – 398 mortos, dos quais 29 oficiais – são muito inferiores ao habitual: morreram ‘327 oficiais e 7098 praças’.

O exagero tem uma das origens num livro escrito por um dos comandantes do CEP, Gomes da Costa, promovido a general nos campos da Flandres e mais tarde chefe do golpe militar do 28 de Maio de 1926, que impôs uma ditadura, mantida pelo Estado Novo até ao 25 de Abril de 1974. Para além dos seus interesses de carreira militar, a presença portuguesa nos campos de batalha na Europa suscitou os maiores exageros nas baixas. Por um lado devido à luta política interna, depois do levantamento militar que levou Sidónio Pais ao poder em Dezembro de 1917, quase ao mesmo tempo que partia para França o último contingente militar português, com por soldados do Infantaria n.º 17, de Elvas. Mas sobretudo porque depois de três batalhões nacionais acompanharem a ofensiva vitoriosa e participado com a bandeira portuguesa nos desfiles da consagração em Paris e Bruxelas, era importante apresentar muitas baixas, para obter maiores indemnizações a nível financeiro e de armamento na Conferência de Paz.

'Ao contrário de hoje, na altura considerava-se que um maior número de mortos significava uma campanha mais heróica', observa a mestre em História, Isabel Marques, que acaba de publicar um desenvolvimento da sua tese com o título ‘Das Trincheiras, com Saudade'.

HERÓI MILHAIS PASSOU A SER O 'MILHÕES'

Do 9 de Abril de 1918, em La Lys ficou a memória de muitas histórias. Nos anos 30, início do Estado Novo, teve grande popularidade um sobrevivente da trágica batalha, o soldado Aníbal Augusto Milhais, trasmontano de Murça, a quem se atribuiu o feito de sozinho, numa trincheira, com uma metralhadora Lotz, desbaratar uma coluna de alemães que se deslocava de mota, e outras forças de forma a retardar o seu avanço e permitir o estabelecimento das linhas aliadas 30 km. Foi condecorado com a Torre Espada e até mudou de nome depois do seu chefe militar lhe dizer: 'Tu és Milhais, mas vales Milhões'. Da ficção é o ‘capitão Afonso’ do romance ‘A Filha do Capitão’, de José Rodrigues dos Santos. 'Na hora do ataque às 04h00 estava numa trincheira de la Lys a bebericar uma chávena de chá. Com o susto da tempestade de metralha explosiva quase o ia entornando', escreve o autor.

DAS REVOLTAS AOS DESFILES DA VITÓRIA

As forças portuguesas ficaram destroçadas pelo ataque alemão na madrugada de 9 de Abril de 1918 em La Lys. Cansados e desmoralizados, perante a ofensiva de quatro divisões alemãs, os nacionais opuseram frágil resistência. Segundo Isabel Marques Pestana, convidada oficial para falar amanhã, na Universidade de Lille, sobre a participação portuguesa na Guerra 14-18, o desastre deve-se a uma situação calamitosa. A partir de Dezembro de 1917 não se enviaram mais tropas para França nem se renderam as que lá estavam. Isso ficou patente em 18 revoltas. Ainda assim, a partir de Setembro de 1918 foi possível reconstituir três batalhões que participaram na ofensiva vitoriosa final e desfilaram com a bandeira portuguesa nas paradas do triunfo em Bruxelas e Paris.

SARGENTO FERREIRO VIRA ARTISTA

Um encontro fortuito, na frente da Flandres, com um médico de Aveiro que já o conhecia como o ‘Almeida de Coimbra’, ferreiro com talento, facilitou ao sargento Lourenço Chaves de Almeida, da Coluna de Transportes de Feridos n.º 1, o cultivo da sua arte em França. Começou por arranjar uma lança para o estandarte de um regimento e aproveitava as cápsulas das granadas e de outros projécteis para artesanato muito elogiado. Também reparou uma bengala ao general Tamagnini, comandante-chefe das forças portuguesas, dando-lhe uma grande alegria pela estima em que ele tinha o utensílio oferecido por Mouzinho de Albuquerque.

Da batalha de La Lys recorda a confusão e que os ingleses lhe ficaram com um guarda-jóias feito na forja que improvisara em La Fosse. Estas e outras peripécias da presença portuguesa na guerra são contadas no livro ‘Memórias de um Ferreiro’ que Lourenço de Almeida escreveu antes de falecer em 1952, com 76 anos, e a vontade de um neto, Afonso Almeida, conseguiu que fosse publicado há menos de um mês com o apoio da Liga dos Combatentes.

MINISTRO NA COMEMORAÇÃO

Severiano Teixeira, ministro da Defesa Nacional, participa amanhã e depois em França nos actos dos 90 anos de La Lys.

HOMENAGEM NO CEMITÉRIO

O cemitério militar português de Riche-bourg é um dos locais da cerimónia que se alargam a La Couture e La Peylouse-St. Venant.

398 MORTOS

É o número mais exacto das perdas sofridas em La Lys.

29 OFICIAIS

Estão os mortos do 9 de Abril, alguns por suicídio.

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in Correio da Manhã - 10 Abril 2008 - 00.30h
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Comentários no CM on line
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10 Abril 2008 - 08.18h | Américo Silva
A não esquecer: Afonso Costa autocondecorou-se com a Torre e Espada, e Norton de Matos, um dos responsáveis pelo desastre,reaparceu depois, limpo e escarolado, contra Salazar.
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NOTA de VN
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Então e nos comentários não se fala do General de Caserna Gomes da Costa, herói da I Grande Guerra, chefe das tropas revoltosas que ajudaram a derrubar a I República e a implantar o fascismo e que logo no início foi afastado e desterrado? Bem, lá continua com a sua estátua em Braga. Essa não foi apeada como em Vila Franca de Xira não foi mudado o nome doutro «herói», Marechal Carmona, Presidente da «República» vitalício após o afastamento de Gomes da Costa. E depois ainda há quem diga que a II República, iniciada em 25 de Abril de 1974, não é «democrática» !
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Já desisti de comentar no CM on line porque normalmente os meus «escritos» não passam no «crivo»
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